quinta-feira, 3 de março de 2011

Gomercindo

As estâncias da campanha do rio grande eram cercadas de casas , galpões e uma infinidade de alojamentos onde se instalavam peões temporários e outros que permaneciam como inúteis úteis para a propriedade servindo simplórios como mandaletes onde se alimentavam das panelas gerais e se vestiam das sobras da casa grande, estes nunca receberiam salários viviam as expensas como criação da casa serviam sempre mas não lhes era atribuído valor no mais por algum defeito da própria existência ainda serviam de chacota para a peonada ajustada. Havia também outras almas que por necessidade se desenvolviam nesta mesma esfera com um pouco mais de atributos e que chegavam a maturidade constituindo famílias multiplicando assim outras gerações que viriam a engrossar o contingente do entorno da casa grande. Para estes se destinava a casereada, botar as vacas, tirar leite abastecer de lenha o galpão da peonada a cozinha e a lareira da casa grande tudo de acordo com a hierarquia e não há pedaço de chão neste mundo onde se junta um povo que não tenha uma escala de valores, e para estes se prestava atenção seja pela posição privilegiada por estar entre dois mundos o da chefia e do galpão ou pelo espírito brincalhão e criativo brinde de uma vida dura levada no deboche de sua própria desgraça ou pela descoberta de que um pouco de irreverência caia nas graças de ambos os lados não ficando mal com ninguém.
Gomercindo foi assim um pouco meio sem sorte e se notou isso quando em uma temporada de inverno onde seu cavalo tobiano ja meio arqueado mas seu único bem chegou a pastoreio de favor e colocado junto com a tropilha da estância, total um a mais no meio de mais de cem animais não faria diferença. E, assim também naquele inverno onde se levantou um temporal do lado do Uruguai despejando mandados que se viu no outro dia o tobiano do Gomercindo estendido no pasto único ente atingido por um raio no meio da tropilha. Tal seja então pela sua morte trágica ocorrida na Casuarinas onde depois de emborcar uma três fazendas foi tirar um cochilo em uma estrada vicinal tendo como travesseiro o camalhão do meio, com o pastiçal o ocaso de um entardecer de sábado e uma caminhonete saudosa de um fim de semana na cidade não foi um bom encontro sendo assim seu passamento.

Alegria da gurizada nas carreiras, onde estava uma roda de ouvintes já lhe prestavam homenagem com risos e gargalhadas. Como contador de causos e de fatos tanto de gente fina como de ginetes que se embaralhavam na doma, contava encenando e demonstrando o acontecido, bombacha de dois panos punho abotoado nunca de botas, um par de botas estava longe de suas posses, uma alpargata ou chinela de couro já lhe estava apropriado.

Na safra de mil novecentos setenta e três rodado no vestibular, mateei na manhã e cheguei devagar uma carteira de minister no bolso e um cigarro na mão na hora da pegada vamos avançando sem pressa total deve se ter cautela também estou pra ser avaliado vou entrando no galpão e cumprimentando como deve ser .
Nesta época do ano não havia pegada nas estâncias e as lavouras de arroz com seus secadores e maquinas que ensacavam mas despejavam os sacos nos quadros da lavoura muitas vezes com agua, dava muito trabalho e a colheita a granel viria em alguns anos mais adiante de modo que passou a ser uma oportunidade de trabalho para um grande contingente de nativos da região. E, nesta manhã la estava o Gomercindo.

A sacaria chegava nova em fardos de quinhentos sacos de juta que ficavam colocados perto da caixa do secador lugar onde toda a peonada ficava a espera das ordens do dia e em cima de um estrado de tábuas de trinta se encontrava o Gomercindo a narrar o ocorrido com um domador, com uma mala de garupa na mão esquerda fazia evoluções no ar e com a direita como quem segurava as rédeas imitando um como levantar do freio e um recuo do domador faz com que ele encaixe seus dois pés junto ao fardo de juta e perdendo o equilíbrio lance a mala de garupa para o alto e seu corpo caindo para traz levante as duas pernas para o ar em um fantástico tombo constrangedor, neste exacto momento meu pai que acabara de entrar no galpão vendo tão inusitada cena da uma gargalhada das poucas que me lembro e a peonada que não perdoa larga de atraz de se dobrar.
Vexado com o ocorrido se esqueceu de que vinha pedir uma changa recuperou a mala de garupa e saiu pela porta da moega na lateral e não mais apareceu na granja.

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