sábado, 19 de março de 2011

E vice versa

Muito embora sempre se tenha vivido como arrendatários junto a estâncias a questão da carne sempre foi uma lida complicada como estamos vivendo em uma época em que não se tinha geladeira, a solução era charquear ou guardar na banha as carnes pré cosidas e fritas não podia conter nada de agua senão estragava.
Como recem chegados a beira da ferrovia a hospitalidade manda que se levem presentes de boas vindas o que minha mãe muito desconfiada recusava ou descartava fruto de uma raivosa educação religiosa que atrapalhou sua vida por um bucado de tempo pois se dizia que uma nossa visinhas era espirita, o que com o passar dos anos se tornaria uma sempre leal amavel e querida dona Virginea esposa do sempre caçador de capinchos e purificador do seu oleo a que atribuia poderes de saúde e longevidade de sorte que sempre compartilhava um quarto do animal abatido pois sabedor que minha mãe fazia bifes especiais com tal corte e com quatro guris famintos a mesa se esbaldava neste dia era caçar e preparar não tinha como guardar.
Caçar perdizes, pombas, marrecas e capivaras era parte do cotidiano das familias toda casa tinha uma arma 32 ou 28 a nossa era uma 36 poi este calibre menor e uma casa com quatro guris era responsabilidade suprir com caça a carne para o jantar.
Quando estes esforços e o trabalho falhavam não tinha garantia de suprimento e carne é vital para quem trabalha pesado e apareceu então uma possibilidade..
Os tucos como chamavamos os ferrroviarios com o seu feitor e imediato e esta era a ierarquia tinham um sistema de busca que consistia em um triangulo de arame bem elaborado e uma placa de bronse que dizia Bomba de Candiota Ulha Negra e vice versa...aquilo me intrigava demais e como foi sugerido ao Seu Arlindo seguia um bilhete cravado no arame e voltava uma polpa de carne assim fresquinha na manhã seguinte... mas o que que era vice versa?
Isso se deu por muito tempo e nossa missão era levar até a parada do trem entregar ao imediaato o Seu Pitinga ou ao Seu Lacassanha e no dia seguinte esperar na parada do trem aquela posta de carne com o valor espetado no arame.
Por volta de mil novecentos e sessenta e cinco chegou então uma geladeira a querozene e com isto também uma receita de sorvete, cubos de gelo, leite sem ferver, nata e toda uma infinidade de possibilidades para nosso deslumbramento e, com isto foi esquecido o mercado da carne que poderia vir de outras fontes e ser conservado em nossa flamante geladeira.
Claro que a evolução não para e junto com a geladeira veio com o mesmo queimador que se recomendava que a chama correta era a chama azul de uma querozene sem impurezas, o lampião aladim... que evolução, imediatamente foi banido o lampião de pavio pois a modernidade é implacavel com o obsoleto.
Poucos anos se passaram e esta geladeira ja condenada ao ostracismo foi de imediato substituida pela geladeira a gas com uma sobrevida pois se permitia uma adatação como dizia meu pai e ja se foi então a geladeira a querozene..... mas eu ainda não sabia o que era vice versa e o que que tinha isto a ver com a carne.
Algumas coisas ficam ausentes da gente por um tempo muito grande e passei todo o ginásio até chegar ao técnico do Visconde da Graça e conhecer a professora Vilma, dotada de uma alma que me cativou incondicionalmente. Essas criaturas fazem a gente ir a lugares e realizaar feitos que não decidimos por nós e a prf Vilma nos ensinava a fazer redações a partir do cotidiano ou seja escrever em território conhecido uma folha em branco e ja estavamos em casa ... foi dai que citando o transporte de um lugar para outro e depois retornado para o ponto de partida veio uma citação em caneta vermelha "e vice versa".

quinta-feira, 3 de março de 2011

Gomercindo

As estâncias da campanha do rio grande eram cercadas de casas , galpões e uma infinidade de alojamentos onde se instalavam peões temporários e outros que permaneciam como inúteis úteis para a propriedade servindo simplórios como mandaletes onde se alimentavam das panelas gerais e se vestiam das sobras da casa grande, estes nunca receberiam salários viviam as expensas como criação da casa serviam sempre mas não lhes era atribuído valor no mais por algum defeito da própria existência ainda serviam de chacota para a peonada ajustada. Havia também outras almas que por necessidade se desenvolviam nesta mesma esfera com um pouco mais de atributos e que chegavam a maturidade constituindo famílias multiplicando assim outras gerações que viriam a engrossar o contingente do entorno da casa grande. Para estes se destinava a casereada, botar as vacas, tirar leite abastecer de lenha o galpão da peonada a cozinha e a lareira da casa grande tudo de acordo com a hierarquia e não há pedaço de chão neste mundo onde se junta um povo que não tenha uma escala de valores, e para estes se prestava atenção seja pela posição privilegiada por estar entre dois mundos o da chefia e do galpão ou pelo espírito brincalhão e criativo brinde de uma vida dura levada no deboche de sua própria desgraça ou pela descoberta de que um pouco de irreverência caia nas graças de ambos os lados não ficando mal com ninguém.
Gomercindo foi assim um pouco meio sem sorte e se notou isso quando em uma temporada de inverno onde seu cavalo tobiano ja meio arqueado mas seu único bem chegou a pastoreio de favor e colocado junto com a tropilha da estância, total um a mais no meio de mais de cem animais não faria diferença. E, assim também naquele inverno onde se levantou um temporal do lado do Uruguai despejando mandados que se viu no outro dia o tobiano do Gomercindo estendido no pasto único ente atingido por um raio no meio da tropilha. Tal seja então pela sua morte trágica ocorrida na Casuarinas onde depois de emborcar uma três fazendas foi tirar um cochilo em uma estrada vicinal tendo como travesseiro o camalhão do meio, com o pastiçal o ocaso de um entardecer de sábado e uma caminhonete saudosa de um fim de semana na cidade não foi um bom encontro sendo assim seu passamento.

Alegria da gurizada nas carreiras, onde estava uma roda de ouvintes já lhe prestavam homenagem com risos e gargalhadas. Como contador de causos e de fatos tanto de gente fina como de ginetes que se embaralhavam na doma, contava encenando e demonstrando o acontecido, bombacha de dois panos punho abotoado nunca de botas, um par de botas estava longe de suas posses, uma alpargata ou chinela de couro já lhe estava apropriado.

Na safra de mil novecentos setenta e três rodado no vestibular, mateei na manhã e cheguei devagar uma carteira de minister no bolso e um cigarro na mão na hora da pegada vamos avançando sem pressa total deve se ter cautela também estou pra ser avaliado vou entrando no galpão e cumprimentando como deve ser .
Nesta época do ano não havia pegada nas estâncias e as lavouras de arroz com seus secadores e maquinas que ensacavam mas despejavam os sacos nos quadros da lavoura muitas vezes com agua, dava muito trabalho e a colheita a granel viria em alguns anos mais adiante de modo que passou a ser uma oportunidade de trabalho para um grande contingente de nativos da região. E, nesta manhã la estava o Gomercindo.

A sacaria chegava nova em fardos de quinhentos sacos de juta que ficavam colocados perto da caixa do secador lugar onde toda a peonada ficava a espera das ordens do dia e em cima de um estrado de tábuas de trinta se encontrava o Gomercindo a narrar o ocorrido com um domador, com uma mala de garupa na mão esquerda fazia evoluções no ar e com a direita como quem segurava as rédeas imitando um como levantar do freio e um recuo do domador faz com que ele encaixe seus dois pés junto ao fardo de juta e perdendo o equilíbrio lance a mala de garupa para o alto e seu corpo caindo para traz levante as duas pernas para o ar em um fantástico tombo constrangedor, neste exacto momento meu pai que acabara de entrar no galpão vendo tão inusitada cena da uma gargalhada das poucas que me lembro e a peonada que não perdoa larga de atraz de se dobrar.
Vexado com o ocorrido se esqueceu de que vinha pedir uma changa recuperou a mala de garupa e saiu pela porta da moega na lateral e não mais apareceu na granja.